terça-feira, 31 de julho de 2012

Traços Soltos



Faço rabiscos num papel qualquer
Traço linhas aleatórias, toscas
Retratos de um hoje bem aquém
Do que almejo, desejo, mereço
O risco é forte, bem marcado
Sempre com uma caneta preta
Não gosto de escrever à mão
Engraçado como ela me dói
Sinto-a assim desde tenra idade
Tenho, de fato, o traço pesado
Escrita garranchada, letra de forma
Já os desenhos saem fácil, lépidos
Traços rápidos vão e vêm no papel
Habilidade que pouco exercitei
Poderia tê-lo feito, desviei-me
Um teclado hoje me é mais amigo
O que irei desenhar mais à frente?
Caricaturas de senões e por quês?
Retratos de escolhas de sim e de não
O talvez e o poderia me perseguem
Tento e não consigo desviar-me deles
Havia antes duas retas de traço firme
Não as vejo mais ali juntas, paralelas
Conseguirei reencontrar meu traço?

segunda-feira, 30 de julho de 2012

A Roda do Tempo



Longe de mim está o tempo
Giro rápido, louco, frenético
Decisões de supetão, loucas
Instinto frenéticos, catarses 
Imagens de linhas borradas
Tomadas curtas, em filmes 
Retratos de uma ânsia, sede
Vontade de tudo absorver
Voos curtos, em teto baixo
O hoje me soa diversamente
Rápido demais só o relógio
As semanas, os dias voando
Ainda que hoje eu gire baixo
A noção do tempo que muda
É a relatividade de Einstein
O que manda é o referencial
Estar-se-á em uma nova era?
Onde o tudo e o nada vivem
Coabitando nossa existência
Uma anarquia generalizada
Sutilezas cada vez mais raras
Banalidades já massificadas
Gostos duvidosos enlatados
Não me rendo à mediocridade
Ainda que eu me enclausure
Para fugir do burburinho tosco
Veneno para olhos e ouvidos
Isso é ser careta? Então o sou
Um viva aos caretas como eu
Sobreviventes teimosos, sãos
Defensores do bom português
Amantes de toda a boa música
Desconectados do que impera
Nessa salada de frutas podres
Viva o belo! Viva o bom gosto!
Estamos todos pedindo socorro

Lua e luar




Luar refletido no oceano
Estrada de luz e brilhos
Mil espectros cintilantes 
Queria caminhar por ali
Já fiz isso em um sonho
Na verdade eu flutuava
Sentindo na pele o frio
Exalado da água do mar
Luar cor de prata, claro
Lobo que em mim habita
Parece querer uivar alto
Magnetismo claro, puro
Atração mágica, intensa
Quem resiste a um luar?

Quem és tu, amor?




Quem és tu, amor? (Ronald Mignone)

Cantarolando minha noite chora
Derrama a lágrima do orvalho
Suspira o lamento do frio vento
Me aperta o peito em aguda dor

Vidas em ângulo aberto, soltas
Andando em caminhos descruzados
Retas antes paralelas, agora opostas
Amor, palavra que se destila em sons
Ora em notas graves, ora em agudas

Vira cantigas de roda, fados, blues
Letras doídas, em versos marcados
Quem és tu, afinal, que chamam amor?
Existirás em vida, puro, claro e sem dor?
Quem sabe um dia, um dia, um dia... 

Quem és tu, afinal, que chamam amor?
Existirás em vida, puro, claro e sem dor?
Quem sabe um dia, um dia, um dia....

sábado, 28 de julho de 2012

Não feche a torneira






A torneira está aberta no máximo
A ponta de mangueira está solta
Remexendo-se para lá e para cá
Energias que vazam, para onde?
É preciso dirigir o fluxo corrente
Para coisas certas, pessoas certas
Para amigos, amores, pensamento
Concentrar-se no que vale a pena
Abandonar roteiros amarrotados
Histórias modorrentas, cores cinza
Por quem de fato seus olhos brilham?
Qual música lhe faz entrar em transe?
Como você prefere preparar ovos?
Fritos, cozidos, moles, em omelete?
Sinto uma calmaria estranha, fria
Terão as cicatrizes me embrutecido?
Intolerância à pequenez, à frivolidade
Gente que não se permite, não se doa
Há muitos vampiros energéticos por aí
De quando em vez os vejo, reconheço
Sugadores egoístas, incapazes de gestos
De doação, de troca, de amor ágape
O bem é naturalmente tímido, olhos baixos
Há que se olhar nos olhos de forma corajosa
Encarar o bem e o mal de frente, firme
Sem medo, sem receio, sem dúvida
Altivez de espírito e riso sempre fizeram bem
Para meus amigos tudo, para os demais...
Uma sobrancelha só erguida, "O que foi?"
Concentremos-nos no que realmente importa
O resto? Deixemos-lo para os porcos
Eles gostam

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Sons do silêncio




Ando ouvindo o silêncio
Que me diz bastante
Sobre mim e sobre tudo
Sobretudo acerca do hoje

A solidão no burburinho
Uma alma isolada, alheia
Desconectada do círculo
Do caos que lhe acerca

O som do silêncio clama
Anseia por paz e calma
A quietude que constrói
Remetendo a si mesmo

Sigo sempre aprendendo
Ouvindo, calando, vendo
Sentindo o cheiro do ar
A brisa acaricando a face

Pouca coisa hoje me distrai
Me tira de minha meditação
Perguntam-me porque calo
A resposta é sempre uma só

Um sorriso de canto de boca
Analisando, lendo o momento
Ouvindo, sentindo o vozerio
Por ora nada falo, apenas sorrio

Preparo-me nesse aparente vazio
Ensaiando os passos necessários
O caminhar é certo, há que ser
Jamais subestime um leonino

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Sláinte!



Um bom vinho a noite pede
Para regar uma boa conversa
De corações leves, mentes sãs
Assuntos tonantes, notas altas

Temos sede de boas músicas
Vontade de degustar risadas
Pés descalços, roupas soltas
Sem apertar, marcar, prender


 
Falar, cantar de braços abertos
Italianamente (minha cara isso)
Há quem se incomode, é fato
E daí, de ombros eu dou sempre

Ser feliz é fácil (para quem pode)
Basta não querer convencer
Nem ser convincente demais
Sob o risco de ficar forçado

Para quem é livre o riso é fácil
Os olhos sorriem em compasso
Com a gargalhada que contagia
A todos que energia boa trocam

Um brinde à vida, à alegria, ao riso
Que vá para o ralo o mau-humor
Há sempre caminhos e caminhos
Cada um segue o que achar melhor

Vinde a mim os bons fluidos, puros
Emanados de quem vibra comigo
Que absorvem e que também cedem
Meu caminho é iluminado, ensolarado

Sláinte!!

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Vida leve



Vento leve
Brisa
Vida simples
Riso
Tamborilar dentes
Mania
Sorrir com os olhos
Sempre
Olhar ao longe
Hoje
Eriçar pelos
Resposta

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Frugalidades



Tenho a alma inquieta
Ainda que eu pouco almeje
Não é fácil satisfazer-me
Anseio pelo que me arrepie
Que me supreenda, me toque
O frugal que não seja simplório
O tenaz que não oprima, ofusque
Há sempre uma linha tênue
Entre fazer sorrir e ser ridículo
Mas ser ridículo também é bom
Às vezes faz bem ser assim
Quebrar regras, protocolos
Travessuras pueris, inocentes
Sorrisos francos, honestos
Palavras desnecessárias
Olhares que dizem tudo
Viver é mesmo uma arte
E no meu palco sou ator
Protagonista de mim mesmo
A procura de belos scripts
Com enredos e atores reais
Cenários bem montados, firmes
A seguir, cenas do próximo capítulo
Nossos comerciais, por favor


segunda-feira, 2 de julho de 2012

Simplicidade - Reciprocidade



Não preciso de muita coisa
Ser feliz é ter simplicidade
É ver o que poucos enxergam
Em coisas pequenas, banais até
É preciso doar-se por inteiro
Não me servem metades
Nem tampouco meias verdades
Ando lendo demais as pessoas
Não me contento com pouco
Doo-me por inteiro, íntegro
Não exijo nada de ninguém
Cada um dá apenas o que tem
Mas o direito de não me contentar
É meu. Só meu. E me afasto
Afugento tudo o que não me sacia
Afasto o que não me convém
O que não me contenta, expulso
O tempo me tornou pouco tolerante
Mas não quero nada de mais
Nada que eu não mereça
Além do que sempre ofereço
Viver é sempre uma arte
A arte de doar-se. Ou não
Depende de quem mereça
E que também se doe
Mesmo que doa

domingo, 1 de julho de 2012

Sinfonias modernas



Aquarela de uma só nuance
Sinfonia de um só tom
Sem acústica, sem eco
Todos estão surdos
(Ou cegos)
Estradas áridas
Sem brilho, secas
Parecem um fado ruim
Ou um blues de quinta
Quiçá um sertanejo moderno
Não sei se aperto o "forward"
Ou se ligo logo o "exploda-se"
Sendo educado ao dizer o último
Ah...Vou ali
Tomar meu café da manhã