quarta-feira, 6 de abril de 2011

O Cavalo e a Kombi



Era Natal de 1986. A nossa turma toda estava na casa dos dezoito/dezenove anos de idade. Vivíamos aprontando na cidade e, como não podia deixar de ser, volta e meia alguma coisa dava errada. Mas, mesmo assim, sempre saíamos ilesos dessas traquinagens que aprontávamos.

Depois de comemorarmos o Natal na noite do dia 24 de dezembro e cearmos cada um em nossas respectivas casas, fomos todos, eu, Beto Preto, Corina, Ricardo, Chiquinho, Johnny, Jorginho e mais vários outros para a casa de Marcus Waiandt, que sempre tinha uma ceia legal. Aliás, os pais dele, “Seu” Marcus e Dona Lourdes, sempre foram muito generosos com a molecada.

Tomamos vinho, cerveja, comemos à beça e, lá pelas tantas, Marquinhos inventa de sairmos com a Kombi pick up do “Seu” Marcus para darmos um “rolé” pela cidade. Na boléia fomos eu no assento, próximo à porta do carona, Johnny no meio e Marcus dirigindo. Atrás, na carroceria, Ricardo, Beto Preto e Chiquinho. Rodamos pela Barra, fomos ao centro de Marataízes, não tinha muita coisa para se fazer, a rua estava deserta, com as famílias comemorando o Natal em suas casas e a gente cheio de ideias e com vontade de aprontar uma das nossas.

Vínhamos ali pela frente do Iate Clube, indo em direção norte, no rumo do San Remo.  A Av. Miramar, ali em frente ao Ed. Carone, bem como toda a avenida que margeia o litoral até a Praia da Barra era de barro ainda. Marquinhos inventou que queria dar um cavalo-de-pau com a Kombi. Já fui logo me ajeitando no banco e falando que aquilo não iria dar certo, pois Kombi já aparenta querer capotar sozinha andando em linha reta, ainda mais dando um cavalo-de-pau.

Dito e feito... Marquinhos ignorou meus avisos e acelerou a Kombi, avisando aos três que estavam na carroceria que iria dar o cavalo-de-pau. Engrenou uma segunda-marcha e virou o volante de uma vez, bem ali em frente ao quadradão de barro, pouco antes do Barrussinha. O motor da Kombi era a diesel e quando se reduzia para a segunda marcha, isso literalmente fazia travar as rodas traseiras. Para um cavalo-de-pau, de fato, era melhor que o freio-de-mão da Kombi, que não estava funcionando direito.

Só que, como era previsto, a Kombi, quando Marquinhos realizou a manobra, virando o volante para a esquerda e reduzindo a marcha, deu dois ou três quiques com as rodas traseiras pro lado e virou, capotando exatamente para o lado em que em estava, arremessando os três que estavam na carroceria para longe, ficando nós três da boléia espremidos ali dentro, comigo na pior posição, com o rosto no barro e os dois, Marquinhos e Johnny, me espremendo, ambos em cima de mim.

“Caramba, Marquinhos! Eu te falei que isso iria dar merda!”, falei com ele. Marquinhos saiu primeiro pela janela da sua porta e quase tomou um estabaco, pois pisou em cima da roda dianteira esquerda, que ainda estava girando. Logo Johnny saiu dali, não sem antes pisar na minha cabeça, para que, só depois, eu conseguisse sair dali de dentro da Kombi.

Do lado de fora, encontramos Ricardo com a mão no joelho, todo ralado, dizendo que tinha que ir a um pediatra (falou isso ao invés de dizer ortopedista), Beto Preto estava branco da poeira do chão, todo ralado também, e só Chiquinho saiu ileso, sem um arranhão sequer.


Marquinhos ficou desesperado com o ocorrido e começou a bater a própria testa numa pedra, dizendo que o pai dele ia matá-lo por conta da capotagem da Kombi. Tivemos que segurar o cara para que não machucasse seriamente a cabeça. Johnny teve um ataque de risos e Beto estava puto com Marquinhos, dizendo que ele era maluco. Chiquinho só balançava a cabeça, como se dissesse "Esse cara não é normal mesmo...".

Depois de Marquinhos se acalmar e de verificarmos que ninguém havia sofrido, de fato, algum ferimento sério, fomos desvirar a Kombi. Até que ela não havia sofrido nenhuma avaria séria, pois o tirante da carroceria de madeira segurou a pancada toda. Só quebrou o retrovisor do lado direito e o tal tirante de madeira.

E para explicar para “Seu” Marcus o ocorrido? Marquinhos inventou uma história mirabolante, dizendo para o pai que, do nada, havia aparecido um cavalo na frente da Kombi e ele teve que desviar, perdendo o controle da direção, o que ocasionou o seu capotamento.

O interessante é que, no dia seguinte, o pai do Marquinhos foi lá no quadradão de terra e voltou dizendo que tinha visto as pegadas de um cavalo por lá mesmo. Somente no ano seguinte nós contamos para ele a verdade, o que, graças ao tempo já decorrido, apenas rendeu boas risadas do “Seu” Marcos que até hoje lembra e comenta essa história, dizendo que a culpa do acidente não foi do cavalo, mas sim do burro que estava ao volante da Kombi.

5 comentários:

  1. kkkkkkkkkkk Depois o papai vem reclamar de nós, filhas, se aprontamos algo... Agora vou responder que está no sangue! Beijos, Larissa Waiandt.

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  2. uito legal, me fês lembrar os tempos de Cachoeiro. Cunclusão: Deus Existe !

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  3. Ops... Muito legal, me fês lembrar os tempos de Cachoeiro. Cunclusão: Deus Existe !

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  4. VOVÓ MENGA disse...
    Adorei a tirada bem humorada de seu pai.Levou-me a lembrar de uma observação deste nível, numa destas voltas do periodo de férias no nosso Liceu.
    O gramado de nosso pátio estava lindo,verdinho, impecácel e foram comentar com o sarcástico Prof.Ávila, que estava como Diretor do Liceu.
    -Como está linda esta grama!
    Ele, sério, respondeu:
    -Lógico que está, pois os burros ainda estavam de férias!
    Como ele nos amava, né?
    Que grama resistiria àquelas correrias daquela geração ativa e maravilhosa, que usufruiu do inesquecível LICEU?

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  5. Realmente este bom amigo "Marquinhos" tem muitas incríveis e mirabolantes estórias !! Esta é só mais uma delas !!!
    Parabéns Ronald, pela bela e gostosa lembrança dos bons tempos de vocês. Com certeza eu iria gostar muito de vivido esta época com esta galera !!!

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